Logo, logo mais detalhes dessa edição.
Abração e até lá!
BAILEI NA CURVA mostra a trajetória de sete crianças, vizinhas na mesma rua em abril de 1964. Como pano de fundo, impõe-se uma forte realidade: um golpe militar num país democrático da América Latina.
A peça desenha, ao mesmo tempo, um quadro divertido e implacável da realidade. Divertido sob o ponto de vista da pureza e ingenuidade das personagens que, durante sua trajetória, enfrentam as transformações do final da infância, adolescência e juventude. Implacável graças às conseqüências de um Golpe Militar que vão refletir na vida adulta destas personagens.
Durante o desenvolvimento da história, vai-se desenhando um painel dos usos, costumes e pensamentos da sociedade brasileira na segunda metade do século XX. As brincadeiras de colégio, as aulas de educação sexual, as matinês no cinema, as reuniões dançantes nas garagens, os namoros no carro, uma juventude que opta pela guerrilha e clandestinidade em contraste a outra juventude que abraça as drogas e cai na estrada e, finalmente, adultos que optaram pelas conquistas individuais na negação do passado em contraste com aqueles que lutaram para resgatar as memórias dos anos de chumbo. Toda uma geração que, à sua maneira e dentro das possibilidades, sonharam com um país diferente. Uma geração que encontra sua maturidade nos movimentos de Anistia e Abertura Política. E que encerra todas as suas esperanças no mandato de Tancredo Neves para Presidente da República.
BAILEI NA CURVA, sem perder a ternura, inicia sua história em 1° de abril de 1964 e a encerra no dia oficial da morte de Tancredo Neves, quando um bebê, representando o futuro, é embalado em cena ao som da música Horizontes.
O grande sucesso dirigido por Júlio Conte completa 25 anos com mais de mil apresentações e um público estimado em 600mil pessoas.
Nos bailes da vida
Um simples meio-fio de calçada na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, é até hoje um dos clubes mais consolidados do país. Sua estrutura não é feita de paredes, salões e outros ambientes sofisticados. É feita sim, e principalmente, da amizade, da música e dos sonhos que ligavam um grupo de garotos nos já distantes anos 60.
O edifício Levy, reduto da família Borges, foi o cenário onde essa amizade e cumplicidade musical nasceu. Naquele apartamento, o já tímido Bituca (Milton Nascimento) entrava pra família de D.Maricota e seu Salomão como o 12º filho da família. Isso, graças a forte amizade que tinha com os irmãos Márcio e Marilton.
O “quarto dos homens” foi o palco para as primeiras investidas daqueles garotos que desde cedo já liam Marx, Sartre, Simone de Beauvoir, Nietzche e admiravam o cinema de Truffaut. O pequeno Lô, na época ainda um menino de calças curtas, foi despertado pelas melodias inovadoras e pela voz “celestial” de Milton Nascimento. Não demorou muito para que o menino apresentasse as suas próprias composições. Eles ainda não sabiam, mas estavam formando o embrião de um movimento musical que transformaria o panorama da Musica Popular Brasileira: o Clube da Esquina.
Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges já fazem parte do imaginário coletivo quando o assunto é amizade, confraria, MPB e Minas Gerais. E a turma não se resumia aos três. O “bando” de cabeças pensantes que passou pelo desenvolvimento de país, pela ditadura militar, abertura política e a tão sonhada democracia tinha também Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Beto Guedes, Tavinho Moura, Flávio Venturini e Toninho Horta. Isso sem falar nas importantes contribuições de Wagner Tiso, Luiz Carlos Sá e Gutemberg Guarabyra e daquela que praticamente lançou a música mineira e promovia a rapaziada, a gaúcha Elis Regina.
Dessa união, nasceram dois clássicos da MPB, Clube da Esquina (1972) e Clube da Esquina 2 (1978). Canções como “Clube da Esquina nº 2”, “Manuel, o audaz”, “Todo azul do mar”, “Tudo que você podia ser” e “Paisagem da Janela” catapultaram a carreira da maioria dos integrantes do “clube” e formaram parcerias que nos emocionam até hoje. O “trem azul”, que partiu do Ed. Levy e passou pela famosa esquina ganhou o mundo e neste sábado desembarca no nosso clube da esquina, a Sociedade Ginástica de Estrela (leia na página 10). Cabe salientar que esse movimento nunca morreu. Pode até se apagar vez ou outra. Porém, sempre haverá alguém, músico ou fã que mesmo “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão” afirmará que “todo artista tem de ir aonde o povo está” e que “cantando se disfarça e não se cansa de viver nem de cantar”
Texto de Marcelo Petter publicado na Página 2 – Nova Geração de 30/09/2011