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sábado, 20 de novembro de 2010

Caco Barcellos

Quinta-feira, 18/11, assisti a uma palestra com o jornalista Caco Barcellos e sobre isso escreveria aqui. Porém, minha colega Camila Diesel o fez com tanta propriedade, que nada mais teria a acrescentar. Por isso, transcrevo abaixo suas palavras, com sua devida permissão, é claro, e não sem sugerir uma visita ao seu Infinito Particular. A moça escreve pra caramba! Simbora!


Caco Barcellos: digno de admiração
Camila Diesel

Ontem assisti à uma palestra com um dos maiores jornalistas brasileiros. Nada mais, nada menos que Caco Barcellos. Com vasta experiên­cia no jornalismo, o repórter gaúcho dividiu com o público, formado por estudantes e empresários, sua trajetória profissional, desde o início da carreira em Porto Alegre até o atual momento.

O jornalista fez diversos relatos sobre seu pai e sobre seus ensinamentos. Aliás, ele falou exaustivamente sobre ele. Achei o máximo quando ele disse que a principal coisa que seu pai o ensinou é ter vergonha na cara. “O cara pode ser duro, não ter grana, mas se tem vergonha na cara, mostra que é um homem de valor”, disse. Concordo!

A necessidade de ter conhecimento em diversas áreas também foi comentada por Caco. “Na hora em que você disputar um espaço num mercado extremamente competitivo, cada detalhe, cada ferramenta que você carrega consigo ajuda a adquirir confiança e segurança para enfrentar melhor o desafio”, disse. Suas aptidões adquiridas antes mesmo de ser taxista (sim, foi taxista e mais uma porção de coisas antes de ser repórter), lhe renderam bons frutos. Um exemplo é o conhecimento básico sobre marcenaria, que adquiriu com seu pai. Assim, conseguiu entrar no apartamento luxuoso que o ex-juíz Nicolau dos Santos Neto, teria supostamente vendido por 750 mil dólares, em Miami – EUA. Caco, arriscando a prisão americana, foi ajudante do marceneiro do prédio e conseguiu descobrir três quartos espaçosos, quatro banheiros, nota fiscal de um relógio de mais de mil dólares, vinhos e champanhes refinados. O apartamento ainda era habitado por Lalau e a reportagem teve grande peso na investigação de um dos maiores escândalos do país.

Lalau devolveu pouco mais de um milhão de reais aos cofres públicos. Muito pouco perto do que roubo. Mas Caco fica satisfeito: “minha parte eu fiz”. E é isso que falta para a classe jornalista brasileira. Falta querer mais. Falta essa vontade de mudar as coisas. Me parece que esse anseio faz mais parte dos estudantes, como eu, e que essas asas são podadas com o tempo, frente à realidade que nos é apresentada. Só querer não adianta. Vejo um jornalismo corrompido pelo interesse financeiro, onde os patrões grandões dão poucos recursos, poucas condições e pouco espaço para o novo.

Um de seus principais discursos foi acerca do jornalismo investigativo que realiza. Caco Barcellos relatou suas investigações, as 20 guerras em que realizou cobertura televisiva, os altos riscos que correu (inclusive ameaças de morte), a grande quantidade de processos que sofreu, em detrimento da publicação dos fatos. Um exemplo é o livro Rota 66, em que o jornalista identificou 4,2 mil vítimas mortas pela Polícia Militar de São Paulo e os 20 maiores matadores.

Caco levantou o tema da violência no país. Segundo ele, o Brasil é o quarto país mais violento do mundo, com 47 mil pessoas mortas por ano. Dos 4 mil e 200 mortos que Caco indentificou, 3 apenas eram de classe média e a grande maioria eram negros. Em sua pesquisa, ele identificou que um dos grandes assassinos é o Estado. “Os números nos ofendem. Se questionarmos as autoridades, elas irão atribuir o maior número de assassinatos aos assaltantes e criminosos. Mas o número não passa de 5%. As tropas de Elite são responsáveis por 28% das mortes no Brasil. É o Estado matador. O mais matador do mundo”, disse.

O matador brasileiro mais frequente, segundo ele, são as pessoas comuns, trabalhadoras. “70% das mortes são praticadas por pessoas que não se acham violentas. Tem gente que compra arma pra se defender dos 5% que mata. Então, um jornalismo sério e responsável deveria dizer isso todos os dias”, pondera. Quem mais mata são aquelas pessoas que se descontrolam no trânsito, que têm ciúmes da filha do antigo casamento da esposa, de quem atinge acidentalmente uma criança. E isso, segundo as palavras de um jornalista da maior emissora do Brasil, não é publicado pela mídia. Ele criticou duramente esse jornalismo baseado apenas no que dizem as autoridades, os coronéis, os policiais. E visivelmente o que ele faz é ir pro outro lado do balcão. Em recente exibição do “Profissão Repórter” (programa em que comanda jovens jornalistas), ele chega perto, muito perto, dos usuários de crack, na Crackolândia. Ele vai onde a maioria tem receio.

O jornalista global ganhou minha admiração. Principalmente quando falou do livro Rota 66. Estava ele com uma quantia em dinheiro pronta para ser gasta em uma casa na praia. Porém, um dilema o abatia. Disse ele que não conseguia se conformar com o que via sendo divulgado pela mídia. Não conseguia se conformar com esse posicionamento da polícia e das autoridades perante as mortes de inocentes. Ou ele fazia alguma coisa, ou então abondava a profissão. Então, usou o dinheiro da tão sonhada casinha no litoral para descobrir quem eram os mortos do Brasil e quem os matava. Caco foi processado 18 vezes. E não perdeu nenhuma!! O livro hoje é leitura obrigatória em algumas escolas de periferia. E o dinheiro que o livro rendeu, proporcionou a casa e muito mais.

Ele abriu espaço para perguntas, ao final da palestra. Como de costume desse povo da região, muitos foram indo embora. Tá certo que ele falou bastante (se deixassem ele falava até a meia noite, né, Marcelo?) e acabava indo além do que era questionado, mas acho isso uma falta de respeito sem tamanho. Aff…

Um cara bem de boa, otimista, que acredita na sua profissão e no trabalho árduo. Assim que vejo agora Caco Barcellos. E como eu disse pro meu pai, ou ele é muito ator, ou ele é muito foda!

Sem frescuras, ele se mostrou disponível para tirar fotos. Eu não podia perder, né? Olha aí:

Caco Barcellos e Camila Diesel

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