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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crônica da Semana - Nelson Motta - 01/10/2010


No palanque

Poucas situações podem levar um ser humano – até mesmo os mais dignos, honestos e respeitáveis - a parecer tão ridículo ou patético como em um palanque eleitoral. É onde até os melhores ficam piores, mais falsos e paródicos, pela própria natureza da situação.

O melhor, ou pior, exemplo é o grande escritor Mario Vargas Llosa, que foi candidato a presidente do Peru e perdeu por um focinho para Fujimori. Nos palanques, a inteligência e a lucidez de um dos maiores escritores vivos se diluíram em demagogia e arrogância, e o fizeram parecer um personagem do ficcionista Vargas Llosa.

Com apoio político qualificado e ótimo programa de governo, era infinitamente superior ao facinoroso Fujimori. Mas, nos palanques, ele tinha que se “vender” à massa, dizer que é melhor do que os outros, que é o bem e eles o mal, numa situação-limite para alguém dotado de um mínimo de compostura e autocrítica. Vacilou, perdeu.

Alguns poucos homens e mulheres, discretos e corretos, se submetem ao sacrifício pelo seu país, por seus filhos, sua causa ou sua fé. Outros sobem prazerosamente nos palanques e os fazem palco para exibicionismo, picadeiro para bravatas e autoelogios, oportunidade para se sentirem “amados” pelas massas amorfas e anônimas. Há gosto para tudo.

Experimentem ver imagens de um candidato discursando em um palanque e tirem o som. Tirem também as crianças da sala porque a cena é apavorante: homens e mulheres gritando e esbravejando, com as veias saltadas, de dedos em riste e punhos fechados, entre esgares e sorrisos congelados, aplaudidos por suas claques e militâncias amestradas. Será que eles pensam que aquele pessoal gosta mesmo deles? Ou fingem que não sabem quem está pagando a conta?

Diante das novas linguagens, mais sintéticas e objetivas, que a televisão, a publicidade e a internet trouxeram para as campanhas eleitorais, o discurso político de palanque, por sua forma e conteúdo, soa tão antiquado e anacrônico como um Sarney.

E para não dizer que não falei de flores, como não estou satisfeito com o discurso da situação, e nem com o da oposição, voto em Marina Silva.

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