Não é de hoje que a internet intermedeia relações. Sejam elas profissionais ou de cunho afetivo, o certo é que a maioria das pessoas se vale desta ferramenta, que dá ‘’cara’’ à nossa época, para construir, manter e até destruir parcerias e relacionamentos.
No filme “Bossa Nova”(2000), dirigido por Bruno Barreto e estrelado por Amy Irving e Antonio Fagundes, quem demonstra essa faceta digamos assim, mais tecnológica, é uma personagem coadjuvante. Através de um romance virtual, via chat, ela alimenta e também dá subsídios, muitas vezes irreais, para conquistar o parceiro e após, transpor a barreira virtual. Ao final, uma série de engraçadas confusões, muitas até criadas por essas “mentirinhas” na rede, acaba por interligar as personagens e quase destruir histórias de amor que se formavam.
Isso demonstra o quanto a cultura das redes tem o poder de interferir e modificar pessoas e relações. Existe, sim, uma reconfiguração da organização social.
Se antes a presença física era imprescindível para estabelecermos vínculos e referências de pertencimento a determinados grupos sociais, agora a técnica cria novas estruturas de vinculação, onde o indivíduo não tem mais fronteiras e não depende mais de uma relação ‘’face to face’’.
Por outro lado, as redes de relacionamento virtual acabam modificando o modo de interação entre as pessoas. As amizades e a formação de grupos com afinidades similares acaba se restringindo ao mundo virtual, à rede. E esta relação “face to face” perde um pouco com esse avanço virtual, tornando os vínculos mais tênues e distantes.
No filme, a personagem Nadine (Drica Moraes), demonstra o quanto essa relação, onde os “rostos” ficam na imaginação e as qualidades são exacerbadas por ambas as “desconhecidas faces”, pode tornar-se no mínimo conflitantes.
A maioria das pessoas que vive esse universo tecnológico e mantém relacionamentos via rede tende a se apresentar não como são, mas como se imaginam ou gostariam que fossem. Isso até inconscientemente. O distanciamento destas pessoas do mundo real pode ser muitas vezes fruto de frustrações e carências que não puderam ser supridas, o que faz com que busquem num lugar que consideram “seguro”, a pessoa que irá completá-las e entendê-las.
E é normal isso. Apesar de muitas vezes não sermos o que pensamos. Mas ali, ao longo dos “bytes ” percorridos, o que deixamos transparecer é a nossa essência. Mas... e outro lado?
No caso do filme, onde permaneceu a essência, apesar das distorções físicas apresentadas pelos personagens envolvidos, a história acaba de forma engraçada e feliz.
Mas não podemos esquecer que as tecnologias também são usadas por pessoas de índoles questionáveis e que podem acabar transformando de forma negativa a vida de muitas pessoas.
Como isso já faz parte de nossa vida e não há mais como retrocedermos, o ideal é que saibamos fazer bom uso desta tecnologia. Educação, conhecimento, mobilizações humanitárias e de solidariedade estão à disposição de todos, de forma rápida e segura.
E quanto aos amores, já que ninguém é de ferro, basta ter o mínimo de cuidado e não expor-se demais até ter conquistado a confiança necessária. Pois, assim como no filme, mesmo com toda essa “virtualidade”, o mundo real mais cedo ou mais tarde dá de cara com a gente.
E que seja “abençoado” como a trilha sonora do filme e a poesia de Vinícius: “É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração...” (Samba da Bênção, Vinícius de Moraes e Baden Powell)
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