Páginas

terça-feira, 5 de julho de 2011

Adeus bom senso


Segundo os dicionários, ''bom senso é um conceito usado na argumentação e que é estritamente ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade, e que define a capacidade média que uma pessoa possui, ou deveria possuir, de adequar regras e costumes a determinadas realidades, e assim poder fazer bons julgamentos e escolhas."

Infelizmente, esse conceito passa distante daqueles que deveriam zelar pela segurança e pela justiça brasileiras.
O fato que vou narrar aconteceu hoje.
De um lado, uma professora, que passa seus dias a educar crianças para que se tornem pessoas corretas e capazes de mudar o que parece imutável nesse país, percorre o trajeto de pelo menos 50 km diários para exercer a sua função em outro município, onde atende três escolas.
De outro lado, policiais, que por força da profissão tem o dever de preservar a segurança e assegurar a ordem dentro da sua jurisdição.
Ambos os profissionais, como todos sabem, recebem muito aquém do que merecem no cumprimento de suas atribuições.
Mas, quis a rotina e o destino que ambos se encontrassem em uma blitz, dessas realizadas com frequência pela Brigada Militar e que não servem para muita coisa, além de verificar se você pagou o seu IPVA e consequentemente, não está em dívida com o nosso tão "altivo" estado.
Eis que a professora havia quitado o seu IPVA dias atrás e reforçado o caixa sempre deficitário de nosso governo. Porém, ainda não havia recebido o documento veicular "oficial", o que lhe rendeu multa, pontos na carteira, serviço de guincho e a impossibilidade de percorrer o trajeto desde a sua cidade e dentre as escolas onde atua. Ah! O comprovante bancário não serve para nada e mesmo que em verificação for observado o pagamento e a sua condição de bom motorista, para a Brigada Militar você está fora da lei.
Agora, o cidadão que está com a documentação em dia e carrega dentro do seu porta-luvas uma pistola, drogas ou ainda aquele que bebeu, porém não esteja visivelmente embriagado (escapando do etilômetro), passa incólume por quaisquer blitze que encontrar pelo caminho.
Mesmo diante da argumentação da professora de que havia cumprido as suas obrigações tributárias e dependia do automóvel para o trabalho, para dar educação, quem sabe, até ao filho de algum dos profissionais da segurança que a abordaram; mesmo assim, o bom senso foi deixado de lado, já que por força da lei, ela incorria em delito. Delito gravíssimo, segundo a nossa legislação, pelo qual, além de pesada multa, perderá sete pontos na carteira por falta gravíssima.
Agora, me diga: O que de tão grave fez esta professora? Que culpa tem ela se o famoso "sistema" é falho e não lhe entrega o documento no momento em que ele é pago?
A não ser que trabalhar honestamente, educar crianças e cumprir com suas obrigações tornou-se crime e ainda não saibamos.

É possível.

Desde segunda-feira passada, quem rouba, assalta, provoca acidentes e em alguns casos até mata, tem o benefício da fiança e se vê livre das grades quase que imediatamente.
Num país onde jogador de futebol que vive na gandaia ganha medalha de honra da Academia Brasileira de Letras; onde crianças e idosos morrem diariamente por falta de remédios e de saúde e onde o dinheiro destinado a esses remédios vai parar no bolso de políticos e lobistas ASSASSINOS, não é de se duvidar que quem faça o bem corra risco de prisão e vergonhosa exposição mídiática.
Não podemos condenar os policiais já que estão "dentro" da lei e a cumprindo, mas, convenhamos, um pouco de bom senso não seria de todo ruim.
Mas... não há de ser nada.
Afinal, que mal existe em perder o bom senso num país onde a dignidade já se foi há muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário