terça-feira, 20 de março de 2012
sábado, 17 de março de 2012
The show must go on!
“Levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca.... Meu
Deus quanto tempo eu passei sem saber...”
A filha mais nova de Charles Jones, Rita, rendeu-se à
introdução de seu clássico “Ovelha Negra”, composto e lançado no disco “Fruto
Proibido” de 1975, e decidiu retomar o sossego e a vida que ela tinha lá atrás,
em tempos menos compromissados. Enfim, “tia” Rita se aposentou. De forma
oficial, em meados de janeiro anunciou que, devido a sua saúde fragilizada,
iria pelo menos afastar-se dos palcos. E para manter a tradição, despediu-se em
Aracaju (SE), de forma contundente e
polêmica, como nos áureos tempos dos Mutantes, enfrentando a polícia e atiçando
a opinião pública. Lembrou até a célebre cena de Jim Morrison, do The Doors. A
diferença foi que o músico californiano saiu do show com algemas nas mãos.
Porém, na minha opinião, salvo a real condição de saúde da “OVELHA
NEGRA” do rock tupiniquim e analisando o seu retrospecto, não creio que seja
uma decisão definitiva. Nem mesmo jogadores de futebol, que tem um deadline mais exigente, o fazem. Muitos
se aposentaram mais de uma vez.
No campo musical, esse tipo de decisão raramente é efetivo e
definitivo. Exceção de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, só pra citar
alguns que tiveram não uma aposentadoria declarada, e sim, a vida abreviada por conta da loucura com
que levavam o seu trabalho. A grande maioria dos rockstars vai e volta da
labuta ao descanso “quase permanente”.
E isso é fácil saber porquê: a música e a arte que eles têm
dentro de si não envelhecem, não enjoam e raramente pedem descanso. Ao
contrário dos trabalhadores “normais”, que de fato têm o corpo e a mente
extenuados por longos períodos de trabalho, rotina e uma geografia profissional
que pouco se altera ao longo da vida útil de uma carreira um pouco mais
convencional. Lógico que exceções existem, vide o grande número de workaholics que vemos todo dia por ai.
Sem falar nos políticos que, mesmo senis, mas ainda ávidos por forrar os bolsos,
mantêm –se na ativa e a locupletar-se às nossas custas.
Mas, voltando ao assunto, só para exemplificar, na última
edição especial da revista Rolling Stone nacional,
que trata “100 Maiores Artistas de todos os Tempos”, é muito fácil comprovar
que na música e aqui nesse caso, no rock,
a aposentadoria não chega ou é apenas efêmera.
Paul McCartney e Ringo Starr, continuam tão ou mais ativos
quanto na época em que fugiam de garotas histéricas loucas por um chumaço de
suas ditas “longas” madeixas. O “velho” Bob Dylan, tirando períodos de reclusão
voluntária, mantém longas turnês mundiais e já veio quatro vezes ao Brasil.
Aliás, ele desembarca pela terceira vez em Porto Alegre no próximo dia 24 de
abril. O mesmo acontece com outros grande nomes do jet set musical como Robert Plant, Tina Turner, Eric Clapton, Santana,
Neil Young, Aerosmith, Joe Coker e Elton John.
Eis uma lista interminável de astros que, de tantas contribuições e
retorno financeiro que tiveram, poderiam estar sentados confortavelmente nas
areis de uma agradável praia do Tahiti, curtindo a vida e a família, com a
sensação concreta de dever cumprido.
No Brasil a coisa não é diferente. Quantas bandas e artistas
acabam, voltam, seguem “solamente” ou depois de um “upgrade” retornam tão
alvissareiros quanto uma fênix? Pepeu Gomes, Frejat e o Barão Vermelho, Nasi ,
Scandurra e o Ira!, os jurássicos Made in Brazil, O Terço, os próprios
Mutantes, Ney Matogrosso, Moraes Moreira... Acrescentaria inúmeras linhas ainda para citar
todos.
“Os músicos não se aposentam, param quando não há mais música em seu
interior”
(Louis Armstrong)
Acho que é mais ou menos por aí.
Desconheço músico, independentemente do estilo, realmente aposentado.
Até porque, duvido que um dia a música deixe de habitar o seu interior, a sua
alma. Um músico, um artista, um poeta em qualquer estágio da vida, jamais vai
deixar de criar. Mário Quintana até da
morte fez poesia: “ Esta vida é uma
estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois as nossas
malas estão prontas, e a nossa conta nunca está em dia”
Da mesma forma, acho impossível viver sem música e
consequentemente sem aquele que, além de fazer dela seu meio de vida, faz da
nossa, uma eterna trilha sonora.
O músico tem o poder de levantar o nosso astral e de nos
lembrar de momentos felizes e tristes, mas que nos marcaram e são parte de
nossa vida. Vida esta, pautada de momentos ilustrados por canções que nos
remetem a eles.
Quem não se lembra da música que tocou na sua formatura? Na
sua festa de 15 anos? No primeiro ou no melhor beijo? Nos momentos de exaltação
e comoção nacional? Nas comemorações do seu time? Ou naquele momento em que se
estava triste, pensando bobagens. De repente, você ouve aquela melodia que tem
o poder de erguer a sua cabeça, abrir os seus olhos e fazer brotar em sua face
aquele sorriso de “vamos nessa!”
É esse o poder, ou melhor, a dádiva que essas figuras
maravilhosas têm sobre nossas vidas e que jamais vai desaparecer. Creio que é
através da música e consequentemente dos músicos, que Deus quer nos dizer que a
felicidade e a alegria estão aí, ao nosso alcance. Basta abrir os olhos. Ou
melhor, os ouvidos.
E quanto à tia Rita, que foi o gancho dessa breve
brincadeira literária, que ela siga o preceito que ela mesma escreveu (usando
um pouco de licença poética, claro):
“...Não vale a pena “parar”,
tire isso da cabeça e ponha o resto no lugar...” *
Vida longa à Rita Lee.
(* na canção original está “Não vale a pena esperar, tire isso da cabeça e ponha o resto
no lugar)
(Texto publicado no Jornal O Opa! - Edição de Março/2012)
quarta-feira, 7 de março de 2012
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